1/2 dose, se faz favor

Vamos almoçar e é engraçado observar o que nos rodeia. Há de todos os gostos: bifanas, leitão, cozido à portuguesa, saladinhas, panadinhos, queijinhos frescos e tostas mistas, bacalhau a murro, à bráz, espiritual, cozido, assado, frito, sardinhas, feijoada, favas, tartes... nananana. Depois os grupos: damas e cavalheiros de negócios, de bancos, de serviços, de instituições e afins, adolescentes de paposseco na mão, ou pizza, ou hambúrguer, ou coca-cola e as senhoras...

As senhoras... mulheres que fazem a sua pausa de almoço. Aí as vemos em grupos pequenos, pesquisam a ementa, catrapiscam pelo canto do olho o prato vizinho (sim, porque sabemos se a comida é boa pela quantidade de pratos iguais na sala), investigam as calorias, sondam o que as amigas vão comer e chamam o empregado:

- 1/2 dose, se faz favor. Não sou capaz de comer muito!

- Concerteza! Com salada ou sem salada?

- Com salada. E dá, de certeza, para as quatro.

Sai o empregado, faz o pedido para a cozinha. Está habituado às economias calóricas do euro e, indiferente, vai para outra mesa.

Somos económicas. Nós somos assim, maneirinhas a comer, preocupadas com os exageros, satisfeitas pela economia do nosso estômago, preenchidas pela benção de um almoço.

O almoço é rápido, sempre dá para dar uma voltinha pelas montras ou ir a correr tratar da Quinta no Facebook.

À noite logo se vê. Uma sopinha e uma peça de fruta vem sempre a calhar.